Você sabia que as crianças também podem apresentar paralisia facial? Apesar de pouco comentado, esse quadro é muito prevalente na faixa etária pediátrica, sendo motivo de procura de consulta em pronto atendimento e preocupação dos familiares do paciente.

A paralisia facial periférica se caracteriza por uma fraqueza dos músculos de uma hemiface, gerando a perda das linhas faciais, dificuldade para fechar o olho e a boca, alteração da gustação e do lacrimejamento. Ela pode ser classificada em dois grandes grupos: congênita ou adquirida. As paralisias congênitas são aquelas que já se manifestam ao nascimento e podem estar associadas a traumas durante o parto, outras malformações e síndromes. Já a adquirida se manifesta em qualquer faixa etária da infância em sua maioria com início súbito em pacientes previamente hígidos e progressão dos sintomas em 24-72 horas.

Dentre as causas adquiridas, a paralisia idiopática ou de Bell é a mais prevalente, nesses casos não existe uma causa etiológica definida. Apesar disso, a investigação do fator causal deve ser realizada de forma rotineira nesses pacientes. Patologias infecciosas principalmente após uma otite média aguda, inflamatórias, tumorais e traumáticas são as principais causas de paralisia facial periférica adquirida.

A investigação do quadro se inicia com uma anamnese e exame físico completo, sendo de grande importância a classificação do grau de paralisia facial de acordo com House-Brackmann, tanto para diagnóstico como acompanhamento. Em recém-nascidos e lactentes a análise da motricidade facial é mais trabalhosa, sendo importante a observação das linhas em fronte e da assimetria de face durante o choro.

Entre os exames complementares é importante a realização de uma avaliação audiométrica com pesquisa do reflexo estapediano e de um hemograma. A solicitação de exames de imagem e laboratoriais é guiada pela suspeita etiológica e deve ser indicada em casos de ausência de melhora após 3 semanas do início do quadro.
A recuperação tem melhor prognóstico nas crianças comparativamente aos adultos, principalmente nos casos de causa idiopática e nos graus mais leves de paralisia. O tratamento se inicia com corticoterapia podendo ser associado a outras medicações de acordo com a etiologia da paralisia. Os exercícios para motricidade de face e a proteção ocular são de grande importância no tratamento e reabilitação desses pacientes.
O tratamento cirúrgico fica reservado para casos de trauma em nervo facial para sua descompressão e nos casos de falha do tratamento clínico para melhora do quadro funcional.
REFERÊNCIAS:

  1. CIORBA, A. et al. Facial nerve paralysis in children. Worl J Clin Cases, v.3, n.12, p.973-980, Dec 2015.
  2. KARALOK, Z. S. Childhood peripheral facial palsy. Child’s Nervous System, v.34, n.5, p.911-917, May 2018.
  3. WOLFOVITZ, A., YEHUDAI, N., LUNTZ, M. Prognostic Factors for Facial Nerve Palsy in a Pediatric Population: A Retrospective Study and Review. The Laryngoscope, v.127,n.5, p.1175-1180, May 2017.
  4. HANCI, F. et al. Childhood Facial Palsy: Etiologic Factors and Clinical Findings, an Observational Retrospective Study. Journal of Child Neurology, v.34, n.14, p.907-912, Dec 2019.
  5. PAPAN, G. et al. Infectious causes of peripheral facial nerve palsy in children—a retrospective cohort study with long-term follow-up. European Journal of Clinical Microbiology & Infectious Diseases, v.38, n.11, p.2177-2184, Nov 2019.
  6. BANKS, C. A., HADLOCK, T.A. Pediatric Facial Nerve Rehabilitation. Facial Plast Surg Clin North Am, v.22, n.4, p.487-502, Nov 2014.