Fissuras labial e palatina estão entre as deformidades faciais congênitas
mais frequentes. Existem fissuras associadas a síndromes e aquelas isoladas, que representam 70% dos casos. A associação da fissura labial e palatina é o mais comum (em 42-50% dos casos), seguido de fissura do palato isolada e depois fissura labial isolada.

O diagnostico e orientação pré-natal aos pais dá a oportunidade de apresenta-los a equipe multidisciplinar antes do nascimento da criança e introduzir a proposta de acompanhamento e as fases do tratamento.

Logo ao nascimento, o paciente fissurado deve estar inserido em um serviço de referência e é muito importante uma boa relação da equipe multidisciplinar entre si e com a família. O foco da avaliação muda e se soma ao longo do crescimento da criança.

  • Quando nos primeiros meses de vida, deve-se dar especial atenção no impacto da fissura na alimentação, na presença de sintomas respiratórios e como foi a Triagem Auditiva Neonatal;
  • Ao longo dos meses, faz-se a programação das cirurgias de reconstrução: correção da fissura labial em torno de 3 meses de vida e reparo da fenda palatina próximo aos 12 meses;
  • Avalia-se também o desenvolvimento a dentição, como está a audição, desenvolvimento de fala e linguagem da criança e como é a articulação das palavras;
  • Com idade escolar, deve-se acompanhar a autoestima, habilidades de
    comunicação, comportamento e impacto psicossocial.

Visto que nenhuma especialidade sozinha possui toda a expertise para abordar todas as necessidades desses pacientes e suas famílias, a American Cleft Palate-Craniofacial Association determinou a formação de uma equipe multidisciplinar como o Padrão Ouro no manejo dos fissurados. E é o otorrinolaringologista que se encarrega do controle das vias aéreas, do monitoramento da audição e avaliação de doença da orelha média, avaliação da insuficiência velofaríngea e também pode atuar como cirurgião de reconstrução facial se for de sua formação.

  • Avaliação da audição: estudos reportam mais de 90% dos casos de fissura palatina associados com disfunção tubária e otite média com efusão, que se desenvolve logo nos primeiros meses de vida. A inserção de tubos de ventilação é o tratamento-padrão para esses casos.
    Entretanto, não é porque a disacusia condutiva relacionada a otite media de efusão seja o mais comum nessas crianças, que se deve deixar de avaliar a presença de componente neurossensorial na perda auditiva.
    Principalmente nos casos sindrômicos!
  • Avaliação de Insuficiência Velo-faríngea: A válvula velofaríngea é muito importante para a produção normal da fala. A insuficiência velofaríngea é comum nos pacientes com fissura palatina ou fissura submucosa.
    Pacientes devem ser avaliados pela Fono, otorrinolaringologista ou cirurgião de reconstrução, através da avaliação perceptiva e instrumental.
    O tratamento da insuficiência velofaríngea pode ser fonoterapia e/ou cirurgia e depende da avaliação individualizada.
  • Associação com Síndromes: 30% das fissuras palatinas estão relacionadas a síndromes, sendo as mais comuns a Síndrome de Stickler, Holoprosencefalia, Síndrome de APERT, Síndrome de Treacher-Collins, Sequência Sindrômica de Pierre-Robin, Deleção do Cromossomo 22q11.
    Como essas síndromes estão associadas a outros dismorfismos craniofaciais, é papel do otorrinolaringologista dar especial atenção na avaliação das vias aéreas e da deglutição nesses pacientes.