Choro fraco, voz rouca, voz falhada, tudo isso é disfonia. Vamos entender um pouco mais sobre isso?
A disfonia pode ser definida como distúrbio da voz decorrente da produção do som emitido pelas pregas/cordas vocais. A voz é resultado da transformação da energia mecânica proveniente do ar expelido pelos pulmões em energia sonora, por meio da vibração das pregas vocais.

A voz é influenciada pelas estruturas das vias respiratórias altas e ainda pela movimentação dos lábios, língua e palato. É através dessas estruturas que produzimos os sons da fala. Um exemplo de alteração de ressonância, é voz hiponasal ou “anasalada”, que ocorre quando estamos com o nariz obstruído por um resfriado.
Para uma fonação adequada são necessários que três fatores estejam presentes: fechamento adequado das pregas vocais, mobilidade adequada da mucosa das pregas vocais e pressão subglótica do ar adequada. Tanto fatores anatômicos quanto fatores funcionais podem levar à disfonia.
A presença de disfonia em crianças é relativamente comum, podendo chegar até a 23% em crianças em idade escolar em alguns lugares do mundo. Nesta faixa etária, predomina no sexo masculino e a presença de nódulos vocais vem sendo relatada como a principal causa no Brasil. Mas há ainda outras causas.
Antes de tudo, deve-se fazer um diagnóstico preciso que vai orientar o tratamento mais adequado; deve-se avaliar quando e como os sintomas se iniciaram; se quando bebê, o choro era rouco ou fraco; se a criança falava normal e depois começou a ter rouquidão ou se sempre foi rouca; deve-se avaliar se é contínuo ou intermitentente, se há fatores de piora ou melhora, se existem fatores associados; deve-se avaliar também os hábitos vocais da criança e no ambiente familiar (Criança grita muito? Em casa, todos falam com forte intensidade? Falam todos ao mesmo tempo? Criança precisa gritar para ser ouvida?).
A disfonia pode ser o primeiro sinal de uma doença que pode evoluir com obstrução de vias aéreas potencialmente grave, por isso, necessita-se atenção ao diagnóstico precoce. Ela também pode causar danos estruturais e psicológicos, assim como prejuízo na comunicação e na socialização da criança.
Além da avaliação clínica, exames endoscópicos da laringe são imprescindíveis na maioria dos casos para fechar o diagnóstico, sendo realizado preferencialmente com o paciente sem sedação, pois além de possibilitar avaliar as características das lesões, também permite visualizar a laringe durante a fonação. Esses exames incluem a nasofibrolaringoscopia flexível, já abordada anteriormente em outro post, a videolaringoscopia rígida e a laringoestroboscopia. Mais raramente, são necessárias a laringoscopia direta em centro cirúrgico com ou sem biópsia e outros exames de imagem como tomografia computarizada e ressonância magnética.
Os nódulos vocais, popularmente chamados de “calos vocais”ou “calos das cordas vocais”, são a principal causa de disfonia (rouquidão) em crianças. São lesões bilaterais e, geralmente, simétricas, resultantes de trauma vocal e abuso vocal ou uso inadequado da voz. Essas crianças tem história de que geralmente gritam muito, falam alto ou que em casa todos falam ao mesmo tempo e que ela precisa exceder a voz para chamar a atenção. É um quadro benigno e de diagnóstico favorável.

Os pólipos vocais são incomuns em crianças, mas não raros. A lesão em geral é unilateral, mas pode vir associada a outras lesões benignas na laringe. Geralmente está associado a trauma vocal agudo e intenso com início de disfonia súbita e persistente.
A papilomatose recorrente laríngea é um tipo de lesão que ocorre predominantemente nas pregas vocais e na subglote (região abaixo das pregas vocais), mas pode ocorrer não só na laringe, mas em qualquer região das vias aéreas. Ela é causada pelo papilomavirus humano (HPV) e acredita-se que a transmissão em recém-nascidos ocorra essencialmente através do canal de parto, embora outras hipóteses estejam em estudos. É uma doença benigna, mas pode raramente se transformar em maligna. Além disso, é uma doença perigosa, pois pode obstruir a via aérea da criança causando insuficiência respiratória. Além da disfonia/choro fraco, pode apresentar sinais de dificuldade respiratória e estridor (ruído característico de obstrução das vias respiratórias).

Os distúrbios da muda vocal ocorrem a partir da puberdade, quando acontece o crescimento da laringe e a voz adquire características de adulto. A muda vocal ocorre nos dois sexos, porém os distúrbios são mais frequentes no sexo masculino. As alterações consistem basicamente em muda retardada, muda prolongada, muda incompleta, muda excessiva, falsete mutacional e muda precoce.

Outras causas incluem cistos epidermóides, sulcos vocais, ponte mucosa, vasculodisgenesias, disfonias funcionais por alterações psicogênicas, dentre outros.

O tratamento vai depender da causa da disfonia e inclui desde alterações comportamentais como uso adequado da voz e hidratação, terapia fonoaudiológica e cirurgia. Em todos os casos, é importante o acompanhamento otorrinolaringológico, conscientização da família sobre o quadro e o contexto familiar em que vivem e o acompanhamento multidisciplinar especializado com otorrinolaringologista, fonoaudiólogo e, muitas vezes, psicólogo.

Referência bibliográfica:

  1. Tsuji DH & Watanabe LMN. Disfonias. In: Otorrinolaringologia na infância/coordenadores Renata Cantisani Di Francesco, Ricardo Ferreira Bento – 2ª ed. – Barueri, SP: Manole, 2012. – (Coleção pediatria. Instituto da Criança HC-FMUSP/editores: Benita G. Soares Schvartsman, Paulo Taufi Maluf Jr.)